"Se me quiserem amar, terá de ser hoje, amanhã estarei mudada." (Lya Luft)
Páginas
"Que te devolvam a alma homem do nosso tempo. Pede isso a Deus ou às coisas que acreditas: à terra, às águas, à noite desmedida. Uiva se quiseres, ao teu próprio ventre se é ele quem comanda a tua vida, não importa... Pede à mulher, àquela que foi noiva, à que se fez amiga. Abre a tua boca, ulula, pede à chuva. Ruge como se tivesses no peito uma enorme ferida, escancara a tua boca, regouga: A ALMA. A ALMA DE VOLTA." (Hilda Hilst)
31/05/2019
Sincronicidade e Tarot em Arteterapia
Segundo a definição de Jung, sincronicidade se refere a eventos que não têm relação de causa e efeito entre si, mas uma relação de significado, coincidindo no tempo e no espaço, sendo, portanto, eventos sincrônicos. E é sobre isso que falarei nesse vídeo, mostrando ainda alguns trabalhos de alunos e formas que a sincronicidade se apresenta para nós.
29/05/2019
AFRODITE NO DIVÃ
"Embora
pareça existir somente no domínio transpessoal" o mito "é a chave
para a nossa existência pessoal e histórica, o DNA da psique humana"
(Campbell)
Você
já imaginou presenciar deuses gregos, orixás e personagens dos contos de fadas
num divã, contando suas histórias em uma sessão com o próprio Jung? Pois essa é
a proposta do nosso Teatro Arquetípico. No primeiro encontro dessa série você
estará cara a cara com a deusa grega Afrodite, contando o seu mito, e o drama
com o seu filho Eros e sua nora Psiqué!
Coordenação:
Patrícia Pinna Bernardo
As inscrições no evento Afrodite no divã deverão ser feitas pelo link:
https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfq9t-TEGlR-vSljd6jAkgt43xmcaoPsDio-3vybu6TAYMq9Q/viewform?usp=pp_url
As inscrições no evento Afrodite no divã deverão ser feitas pelo link:
Se quiser saber mais detalhes que não encontre nesse link me contate pelo email: pat.pinna@uol.com.br ou pelo whats (11) 99136-4430
Até lá!!!
Investimento:
60,00 / 50,00 (estudante)
(ao se inscrever você receberá um email/ whatsapp com os dados para fazer o depósito da inscrição)
16/05/2019
Scherazade e o poder de tecer com palavras!
Do Poder da Palavra
ADÉLIA BEZERRA DE MENESES
Em "As 1001 Noites",
Sheherazade vence a morte e o poder, propiciando a cura através de um discurso
vivo, corpóreo
“As 1001 Noites"
em geral nos chegaram através de antologias infantis. Conhecemos
as Histórias: "Sindbád, O Marujo", "Aladim e a
Lâmpada Maravilhosa”, "O Pescador e o Gênio” etc. Mas tais
antologias acabam por privar o leitor do plano geral da obra - a estrutura de
encaixe dos contos, embutido uns dentro de outros- e, sobretudo, da poderosa figura
da Sheherazade, que vence a morte através da Literatura. Trata-se da maior
apologia da Palavra, de que se tem conhecimento. E analisar o papel da
contadeira de histórias significará abordar o problema das relações da mulher
com a Literatura, da mulher com a Palavra, da mulher com o símbolo e com o
corpo.
Sheherazade é
personagem da narrativa que inicia e termina "As 1001 Noites",
servindo-lhes de moldura; é a partir dela que se dará o pretexto para os demais
contos. Trata-se da história de Xariar, sultão de todas as Índias, da Pérsia e
do Turquestão, que descobre, por intermédio de seu irmão, imperador da Grande
Tártaria, que sua mulher o traía. E ele toma conhecimento disso no mesmo
momento em que o irmão lhe revela que também fora traído pela mulher. A
conclusão é inevitável: "Todas as mulheres são naturalmente levadas pela
infâmia, e não podem resistir à sua inclinação". O sultão, no estupor da
mais funda desilusão afetiva, propõe ao irmão que
ambos abandonem seus Estados e toda a sua glória, e saiam pelo
mundo para, em terras estranhas, melhor esconderem seu comum infortúnio. O
irmão aceita, com a condição de que voltariam se encontras sem alguém mais
infeliz do que eles próprios. Seguem caminho, disfarçados, e chegam à
beira-mar, onde são surpreendidos por algo que parece um maremoto. Sobem a uma
árvore, escondem-se entre os galhos, e presenciam uma cena qual um gênio (um
djinn) tira do mar uma grande caixa de vidro, fechada a quatro chaves, onde
estava encerrada uma bela mulher, quase adolescente, que ele libera da caixa.
Era a sua mulher, que ele roubara para si no dia de suas núpcias, e que
mantinha presa. Declarando-se cansado, o gênio diz à mulher que gostaria de
deitar a cabeça nos seus joelhos, e adormece.
Os dois irmãos acabam
por ser descobertos no meio das ramagens de seu esconderijo pelos olhos
perscrutadores da jovem. Ela retira delicadamente a cabeça do gigante do colo,
vem para baixo da árvore e propõe aos dois irmãos que tenham relação com ela.
Atemorizados pela presença do gênio, eles inicialmente se recusam, mas ela os
força exatamente com o argumento de que, se não dormissem com ela, ela
acordaria o gênio. Obrigados, eles satisfazem sua vontade, primeiro o mais
velho, depois o caçula. Ao fim, a jovem pede a cada um o seu anel. E diante de
seus olhos estupefatos, abre uma pequena bolsa que continha outros 98 anéis.
Conta que esses anéis foram dos homens que já a tinham possuído. "Com os
dois de agora, diz ela, completo uma centena". "Uma centena de
amantes, malgrado a vigilância ciumenta e a precaução do gênio, que me quer só
para si". Ele se esmerava em encerrá-la numa caixa no fundo do mar, mas
ela não deixava de enganá-lo... “Vede que, quando uma mulher tem um
desejo, não há marido que possa impedir a sua execução" - dizendo isso, ela
se senta e coloca de novo a cabeça do gênio, que continuava a dormir, tranquilamente
em seu colo.
Plano
Os dois irmãos voltam
pelo caminho de onde tinham vindo, comentando que nada no mundo ultrapassava a
malícia das mulheres, e que, nesse assunto, até aquele gênio de poderes
sobrenaturais era mais infeliz do que eles. Convencidos da perfídia feminina,
decidem retornar cada um para o seu reino. O sultão Xariar formula um plano,
que lhe permitiria manter sua honra inviolavelmente preservada, sem que fosse
obrigado a prescindir de mulher: consistia em dormir a cada noite com uma
virgem, e no dia seguinte, ao acordar, mandar matá-la, pelo seu grão-vizir. E
escolheria uma nova para a noite seguinte, e assim por diante. A cada dia, uma
jovem casada e morta. E o início dessa prática trouxe à cidade a mais intensa
das desolações.
Ora, o grão-vizir,
que devia ao sultão a mais cega obediência e que malgrado sua vontade, a cada
noite apresentava ao sultão um nova virgem, e a cada manhã, malgrado sua
repugnância, era obrigado a matá-la, tinha duas filhas: Sheherazade e
Dinerzade. E assim que, textualmente, é apresentada Sheherazade, na versão de
Galland:
"... tinha uma
coragem maior do que se seria de esperar do seu sexo, e um espírito de uma
admirável penetração. Tinha muita leitura e uma memória tão prodigiosa, que
nada lhe escapava, de tudo que ela "avia lido. Aplicara-se com todo
sucesso ao estudo da filosofia e da medicina, e das
belas-artes; e fazia versos melhores que os mais célebres poetas do seu tempo.
Além disso, era provida de uma grande beleza, e uma muito sólida virtude
coroava todas essas belas qualidades." (G., vol. 1, pág. 35)
Dessa descrição
ressaltam primeiro as qualidades "intelectuais" que fazem de
Sherazade uma mulher extremamente inteligente e que se cultivava (lia,
estudava, fazia poesia). Mas suas características propriamente físicas -que não
são dadas em detalhe, e vêm depois, e só depois, das intelectuais, também não
são descuradas: trata-se de uma bela mulher.
Pois bem: essa mulher
altamente interessante que parece ser Sheherazade, comunica um dia ao
grão-vizir seu pai que queria tornar-se mulher do sultão:
"Desejo por um
termo a essa barbárie que o sultão exerce sobre as famílias desta cidade. Quero
dissipar o temor que tantas mães têm de perder suas filhas de uma maneira tão
terrível. (...) Se eu perecer, minha morte será gloriosa; se tiver êxito,
restarei um serviço importante minha pátria."
E combina com a irmã
seu plano: Dinerzade deveria deitar-se no quarto nupcial (sob pretexto de que, ainda
uma vez, elas pudessem passar uma noite próximas), e uma hora antes do romper
do dia, deveria acordar Sherazade e solicitar-lhe que contasse uma de suas
histórias. É o que se passa: nessa noite, depois de ter dormido com o sultão,
que a desvirgina, Sheherazade é despertada pela irmã, que lhe pede uma história
-talvez pela ultima vez. Depois de obtida a permissão do sultão, Shehrazade
começa a narrar. E no auge do suspense, quando a ação esta para ser definida e
a curiosidade do seu real ouvinte aguçada, vendo que a aurora se anunciava,
suspende sua narrativa:
"Sheherazade,
nesta passagem, percebendo que era dia e sabendo que o sultão se levantava bem
cedo para fazer suas preces e ir gerir seus negócios de Estado, parou de
falar." (G., vol. 1, pág. 46).
Diante da observação
da irmã, de que essa história era maravilhosa, Sheherazade lhe afirma que a
continuação seria mais maravilhosa ainda e que, se o sultão quisesse deixá-la
viver mais um dia, que lhe desse permissão para acabá-la na noite seguinte. Sheherazade
ganha um dia de vida. Na segunda noite, quando a irmã a acorda, Sheherazade
"satisfaz a curiosidade do sultão"; acaba a historia iniciada e
começa uma nova, interrompida no auge do suspense, ao romper a aurora: e assim,
noite após noite, o sultão declara desejar ouvir a história iniciada na
véspera, e a deixa viver por mais um dia. Não há garantia, nem Sheherazade a
pede: ela consegue, à prestação, dia a dia, ganhar um dia de vida. Ela aceita
assumir o risco absoluto: arrisca perder a vida, para recuperar ao sultão uma
imagem feminina, perdida pela infidelidade. Há algo de épico no seu gesto:uma
mulher que, através da Palavra, salva a raça feminina.
E quando chega a
milésima primeira noite, o sultão se rende: "1001 noites tinham
transcorrido nesses inocentes divertimentos; elas tinham mesmo ajudado muito a
diminuir as prevenções iradas do sultão contra a fidelidade das mulheres; seu
espírito tinha-se abrandado; ele estava convencido do mérito e da sabedoria de
Sheherazade; lembrava-se da coragem com a qual ela se tinha exposto
voluntariamente a tornar-se sua esposa, sem apreensão quanto à morte a que se
sabia destinada no dia seguinte."
E diz o sultão:
"Bem vejo, amável Sheherazade, que sois inesgotável em vossas narrativas;
há muito me divertis; pacificaste minha cólera, e eu renuncio de bom grado à
lei cruel que eu me tinha imposto... Desejo que sejais considerada como a
libertadora de todas as moças que deveriam ser imoladas ao meu justo ressentimento".
(G.vol.3,pág. 439).
Memória
Isso, na versão de
Galland. Na versão de Mardrus (1) (por muitos considerada a "tradução
obscena" de "As 1001 Noites"), as coisas são apresentadas de uma
maneira bem mais concreta. Em Mardrus, Sheherazade apresenta ao sultão ao fim
da 1001ª noite, os filhos que, ao longo desses quase 3 anos, ela tivera com
ele. A relação sexual entre o sultão e Sheherazade, que Galland omite, Mardrus
explicita: ganha aqui inequívocas provas, ganha concretude.
Mas voltemos um
instante à caracterização inicial de Sheherazade. Se há algo que a tipifica
sobremaneira, é sua prodigiosa memória. Em "As 1001
Noites" podemos vislumbrar as ligações da narrativa com o infinito, da
Memória com o infinito aspecto esse que se tornará bastante evidente se formos
situar a Memória na sua dimensão mítica. Com efeito, no Panteão grego, a
Memória, "Mnemosyne", é uma deusa, filha de Urano e de Gaia, irmã de
Chronos e de Okeanos - a memória, filha do céu e da terra, irmã do tempo e do
oceano: todas, metáforas de infinitude...
E a Memória é para os
gregos a mãe das Musas, mãe das divindades responsáveis pela inspiração.
''Mnemosyne'' preside à função poética. A própria sacralização da Memória (os
gregos fizeram dela uma divindade!) revela, por si só, o alto valor que lhe é
atribuído numa civilização de tradição oral, como foi, entre os século 12 e 8,
antes da difusão da escrita, a da Grécia.
Essa deusa feminina
tem tudo a ver com Sheherazade. "Mnemosyne" revela as ligações
obscuras entre o rememorar" e o "inventar": a musa inspiradora
da invenção poética é, ela própria, filha da Memória. Sherazade, a
contadeira de histórias, não era apenas uma espécie de repositório vivo das
histórias de seu povo, não apenas aquela que "transmitia" histórias
contadas por outros; na sua caracterização inicial, fora-nos dito que ela
também escrevia "versos melhores que os dos mais célebres poetas seu
tempo". Ela também criava.
E assim, noite após
noite, Sheherazade vai, com a ajuda da Memória, conduzindo adiante o fio de
suas histórias: vai tecendo as narrativas. Não é um fio linear: é uma teia, uma
trama. Infindável, infinita. Uma história dará margem a uma outra história
que, embutida dentro dela, desembocará numa terceira, que contém em si o germe
de uma quarta etc. etc. Na acepção do último tradutor ocidental de "As
1001 Noites", Khavam (saiu sua tradução completa, na França, em 1986),
Sheherazade é "La Tisserande .des Nuits" -a tecelã das noites.
Mulher tecelã
Evidentemente, essa
trama, essa rede narrativa eram frutos da astúcia de Sheherazade: serviam para
enredar o sultão. Essa trama narrativa (trama quer dizer também procedimento
ardiloso!) no limite significava... tramóia: a astúcia, velha arma dos fracos
contra os fortes. E arma feminina, muitas vezes.
Sheherazade, a
astuciosa, é a mulher que tece narrativas intermináveis, e que nesse fio prende
o seu homem e vence seu poder. E nessa linha de astúcias, e de fios, e de
tramas, há toda uma tradição (é verdade que de outra cultura, mais uma vez, a
grega) de mulheres fiandeiras (2). Penso sobretudo em Penélope, de quem já se
disse que é tão astuciosa quanto seu marido, o astuto Ulisses,
tecendo infindávelmente o manto com o qual afastará os pretendentes à sua mão,
enquanto espera a volta do seu homem. Mas há também Ariadne, que fornece a
Teseu o fio com que ele enfrenta o Labirinto; e Pandora (a primeira mulher),
tecelã, que aprendeu a arte das fiandeiras com a deusa Atena, cujo epíteto é
exatamente Atena Penitis, a "tecelã"; e Aracnê, que desafia a deusa
Atena na arte da tapeçaria e acaba transformada em aranha. E há as Parcas, que
tecem a trama dos destinos humanos. Todas, mulheres. Por que é sempre feminina
a personagem que lida com o fio? Num estudo sobre a Feminilidade (3), Freud
tece uma engenhosa explicação: a arte da tecelagem teria sido uma invenção de
mulheres, inspirada pelo pudor feminino. Com efeito, o pudor, diz ele, teria
como finalidade primitiva dissimular os órgãos genitais, dissimular a fenda que
existe no sexo feminino:
"Parece que as
mulheres fizeram poucas contribuições para as descobertas e invenções na
história da civilização; no entanto, há uma técnica que podem ter inventado
traçar e tecer. Sendo assim, sentir-nos-íamos tentados a imaginar o motivo
inconsciente de tal realização. A própria natureza parece ter proporcionado o
modelo que essa realização imita, causando o crescimento, na maturidade, dos
pelos pubianos que escondem os genitais. O passo que faltava dar era enlaçar os
fios, enquanto, no corpo, eles estão fixos à pele e só se emaranham."
Mas voltemos a
Sheherazade e Penélope, astuciosas e fiéis. Trata-se, aqui, do mesmo tema da
fidelidade. Não nos podemos esquecer de que, na história de Sheherazade, é a
fidelidade que está em jogo: o desígnio cruel que o sultão se havia imposto, de
que sua mulher por uma noite fosse morta ao romper da aurora não tem outro
objetivo senão preservar, ainda que à custa da morte, a fidelidade feminina. (E
ao mesmo tempo, como veremos mais adiante, tal desígnio impedia-o de amar
vedava ao sultão o amor: matando a mulher com quem dormia a cada noite,
impedia-se de relacionar-se em continuidade, de estabelecei vínculos).
Penélope/Sheherazade
Uma tece infindavelmente o manto, dia após dia, no meio dos príncipes,e sua
fidelidade é condição para o reencontro; outra tece infindavelmente, noite após
noite, teia de sua narrativa: sempre em suspense, sempre na terminada.
Terminá-la, seria a morte.
Penélope: a
fidelidade por um fio. Sheherazade: a vida por um fio. A falta de término, em
ambas, é uma metáfora do infinito. Em ambos o casos, na tecelagem que praticam,
é a fidelidade que está em questão. No caso de Penélope, a trama feita desfeita
é seu ardil, para afastar os pretendentes reservar-se para a volta de Ulisses.
No caso de Sheherazade, a construção de su teia narrativa não apenas ardil para
ganhar mais um dia de vida, mas seu fio narrativo refaz, ponto a ponto, os
farrapos do coração do sultão, dilacerado pela traição feminina.
Sheherazade tece o
tecido de sua história, conduz o fio da narrativa. A trama da
narrativa não é um fio; é uma teia, com todas as suas ramificações, e nessa
rede ela enreda o sultão. Não por acaso que ela é a imagem mesma da sedução.
Penélope: aquela que
tece. Seu próprio nome (em grego, Penelopéia) revela sua vocação: do grego
"pene", fio de tecelagem, e, por extensão, trama, tecido (daí nosso
pano do latim pannus). E c substantivo grego "penelopéia" significa:
dor. Tudo se explica quando pensamos que ela vivia na nostalgia (= dor do
retorno) de Ulisses, e que o pano que ela tecia (que tem a ver com a morte: era
uma mortalha para Laertes, o pai do seu marido) era garantia da sua fidelidade,
como que vedava o acesso de sua sexualidade aos pretendentes que a assediavam:
"Então, de dia
ela tecia a grande tela e de noite, desfazia a sua obra, à luz das tochas. Foi
assim que, durante três anos, ela soube esconder sua astúcia e enganar os
Aqueus" ("Odisséia", cap. 24).
Astúcia
Penélope, Sheherazade
uma tece de dia, outra tece de noite. Três anos: aproximadamente 1001 noites.
Fidelidade e sedução articuladas Em ambas, uma mulher vence o poder masculino. Qual
é, exatamente, a astúcia de Sheherazade?
A primeira resposta é
que Sherazade não apenas joga com a imperiosa necessidade de ficção que habita
o coração de cada homem, mas teria inventado também a técnica do suspense:
inicia uma narrativa aguça a curiosidade de seu ouvinte e... não a satisfaz -
naquela noite. O desenlace seria narrado na próxima noite, se o
sultão lhe concedesse mais um dia. Aos poucos, vão sendo introduzidas
referências às reações do sultão, e, especificamente, à sua curiosidade. Assim
termina, por exemplo, a noite 33:
Sherazade preparavase
para prosseguir seu conto; mas, percebendo que era dia, interrompeu sua
narrativa. A qualidade dos novos personagens que
a sultana acabava de introduzir em cena tendo aguçado a curiosidade
Xariar, e deixando-o na espera de algum acontecimento singular, o príncipe
esperou a noite seguinte com impaciência" (G., vol.
1, pág.25)
Ou então: "O
sultão, persuadido de que a história que Sherazade tinha a contar
seria o desenlace das precedentes disse consigo mesmo: “ É preciso que eu me
conceda o prazer completo."Levantou-se e resolveu deixar viver ainda este
dia a sultana". (G., vol. 1, pág. 216).
Satisfazer a
curiosidade, para o sultão, significa prazer. Postergá-la, significa cultura.
Pois uma das coisas que diferenciam o homem do animal é exatamente isso: a
capacidade de postergar a realização do prazer. E assim temos a curiosidade do
sultão extremamente bem administrada por Sheherazade, com sua técnica de
suspense. E os textos acima provam o quanto a quaIidade narrativa de
suas histórias, sua qualidade literária, portanto (a saber: introdução
adequada de novos personagens; previsão de acontecimentos singulares;
preparação cuidada do desenlace) conta.
E o interessante é
que a curiosidade está presente em dois níveis, em "As 1001 Noites":
nesse primeiro nível, da "macro-estrutura", na história que serve de
moldura é a curiosidade que fundamenta o adiamento da execução da sultana. Mas
também, ao nível das histórias contadas, entre os muitos motivos recorrentes
nas narrativas de "As 1001 Noites", esse motivo da curiosidade
adquire grande importância, dado seu estatuto de desencadeador das ações.
Curiosidade necessidade imperiosa de conhecer. Aguilhão do saber por
experiência. Haveria que se fazer um estudo antropológico da curiosidade, e do
papel que ela desempenha em várias religiões e mitologias: desde a curiosidade
de Eva, atiçada pela serpente, na narrativa mítica do Paraíso, tal como aparece
no "Gênesis" ("Podes comer de todas as árvores do jardim. Mas da
árvore do conhecimento do Bem e do Mal não comerás..." E o resto a gente
sabe: a queda, a expulsão do Eden, o Paraíso Perdido...), passando pela
curiosidade de Pandora, que abre a fatídica caixa de males que se espalharão
por toda a terra, só restando no fundo da caixa a esperança...; até a
curiosidade do curumim que abre o coco de tucumã que encerra noite, fazendo com
que a escuridão se espalhasse pelo mundo, como na lenda indígena brasileira.
Sempre a curiosidade, com o que ela representa de fálico e faustico, de motor
do progresso e de propulsora do espírito humano, mas também com o que ela comporta
de fragilidade: deixar-se vencer pela curiosidade significa "sucumbir a
uma fraqueza", cair em tentação. Como naquela história que Sheherazade
conta ao sultão, do moço a quem foram franqueadas 99 salas de um castelo, com
todas as suas delícias; mas vedada a abertura da 100 ª porta: premido pela
curiosidade, ele a abre, e ai começa a sua perdição. Mas sobretudo, em vários
contos de "As 1001 Noites" (como "O Comerciante e o Gênio"
ou "História dos Três Dervixes e das Cinco Damas de Bagdá", e muitas
outras), é a curiosidade por uma narrativa a ser feita por uma personagem que
lhe salva a vida, inicialmente suspendendo a execução da sentença e,
finalmente, anulando-a. Assim, o mesmo elemento que se encontra,
importantíssimo, a nível da estrutura geral da obra, comparece no detalhe, em
numerosos contos.
E Sheherazade, o que
faz é manipular a curiosidade do sultão. No entanto, ao longo das 1001 noites
processasse uma evolução. Considera-se Sheherazade como a especialista do
suspense. Contudo, isso é só inicialmente verdade: ao longo de suas tantas
noites de contadeira de histórias, ela abandona o suspense, chegando a levar a
termo, ao romper da aurora, as suas narrativas. Mas acena com a próxima... Ela
abandonará o recurso do suspense - que tem algo de um
golpe mais ou menos enviesado - um discursus interruptus- chegando a
terminar os contos na mesma noite em que os iniciara. E mesmo prescindindo do
recurso do suspense, o sultão a deixará viver, mais um dia.
E aqui está a segunda
a resposta para a pergunta "em que consiste a astúcia de
Sheherazade": na realidade, ela lida é com o Desejo. E todos sabemos que o
Desejo não tem um objeto que o aplaque; uma vez cumulado, ele ressurge,
desperto do outro, e assim sucessivamente. Não tem objeto que o
supra, que o satisfaça, que o cumule. O que é que que o sultão queria? Uma nova
de história, e por isso Sheherazade viveria mais um dia, e depois outro, e
outro. Ela não tenta obter dele, logo de do início, que lhe poupe a vida para
sempre: consegue dele, a cada dia, que lhe poupe a vida por aquele dia. Mas
ele, também, o sultão, daria sentido a mais um dia de sua existência, na
espera/expectativa de algo que o plenifique. A função de Sheherazade era alçar
sua vontade, tendê-la para algo por vir. Ela age no sentido de acutilar o
Desejo, de atiçá-lo, de só ilusoriamente aplacá-lo... por uma noite. Uma vez
supostamente aplacado, ele renascerá. O objeto do Desejo está sempre além,
sempre adiante, visa sempre um além que escapa: é isso que nos conta a história
de Sheherazade e do sultão de todas as Índias.
E o mundo do Desejo é
o mundo do Id, mundo da noite, da magia e da fantasia. O dia que surge
significa que a voz de Sheherazade deve-se calar; é de dia que se realizaria
sua execução. Há uma fórmula quase que ritual, que esconde o fio narrativo de
Sheherazade: quando rompe o dia, ela se cala, e o sultão vai "cumprir seus
deveres" de chefe de Estado. Há aí um confronto entre o princípio do
prazer e o princípio de realidade: o princípio do prazer cessa com a luz do
dia, quando se impõe a realidade, com o seu cortejo de opressões. As noites são
para as histórias e para o amor; os dias são para o trabalho (e para a morte)
Palavra
Referi a situação
(presente tanto a nível das histórias que Sheherazade conta, quanto naquela da
própria sultana, e que serve de moldura às demais) em que uma vida é trocada
por uma narrativa. Isso significa um extraordinário apreço pela palavra. As
vezes esse apreço é expresso materialmente. Numa das histórias que Sheherazade
conta ao sultão ("A História de Ganem"), por exemplo, registra-se o
seguinte:
"Ele [o califa]
achou esta história tão extraordinária que ordenou a um famoso historiador que
a escrevesse, em todos os detalhes. Ela foi em seguida depositada no seu
tesouro, de onde várias cópias tiradas deste original a tornaram pública."
(G., vol. 2, pág. 420)
As histórias
excelentes são guardadas no tesouro real! Estamos numa civilização em que,
literalmente, a palavra vale ouro, em que a história narrada é tesouro.
E ainda, a palavra
aqui é mágica. Já repeti várias vezes que, através da Palavra, Sheherazade
vence a morte e o Poder. Sheherazade, a mulher, instaura um novo tipo de poder.
A força da Palavra radica na magia. A palavra aqui transforma -como no
curandeirismo, na magia, na religião... e na psicanálise. O conto "Ali-Babá
e os 40 ladrões", por exemplo, é expressivo disso: trata-se de uma palavra
mágica, palavra eficaz, que tem o poder de remover um rochedo, o poder de fazer
abrir a entrada da gruta onde os ladrões guardam seus tesouros: "Abre-te
Sésamo". Ali-Babá a guarda na memória, com cuidado e respeito, e ela se
torna um instrumento de força na sua boca. Mas seu irmão, o invejoso e insolente
Cassim, se esquece da palavra certa, e tenta outras, que não têm, no entanto, a
força mobilizadora da palavra mágica. Da palavra transformadora, que remove
rochedos. Ele consegue penetrar na gruta dos ladrões, mas depois não consegue
sair:
“... acontece que ele
se esquecera da palavra necessária (...) e, em lugar de "Sésamo", diz
"abre-te Cevada"; e espanta-se ao ver que a porta, longe de se abrir,
permanece fechada. Nomeia vários outros nomes de grãos, diferentes daquele que
era necessário, e a porta não se abre". (G., vol. 3, pág. 247).
Ele se esquecera da
palavra certa, da boa palavra acaba perecendo às mãos dos
ladrões, que o pilham preso dentro da gruta.
Pois bem, há algo de
mágico na palavra, na história do rei Xariar e da bela Sheherazade, que
consegue demover seu coração de pedra. A tentação de um paralelo com a
psicanálise é bastante grande: essa situação extraordinária em que a Palavra
(aquela que é preferida pelo paciente, e aquela que é ouvida por ele) é palavra
eficaz: provoca alterações, transforma aquele que a recebe. Restaura-se aqui o
po der arcaico e mágico da Palavra.
O poeta, o mago e o
psicanalista: aqueles que constroem coisas com a palavra, que alteram a
realidade, modificam a essência profunda do ser. E ao lado poeta, do mago e do
psicanalista, a mãe, que conta histórias, a mulher.
A mulher contadeira
de histórias: sua influência foi reconhecida por todos aqueles que, desde a
Antiguidade, se preocuparam com o problema da eficácia da Palavra, da força
transformadora da palavra:
"Por conseguinte,
teremos de começar pela vigilância sobre os criadores de fábulas, para
aceitarmos as boas e rejeitarmos as ruins. Em seguida, recomendaremos às mães
que contem a seus filhos somente as que lhes indicarmos e procurem
amoldar por meio delas as almas das crianças com mais carinho do que
por meio das mãos fazem com o corpo." ("República",
livro 1 2,377b).
O grifo,
evidentemente é meu, realça a importância extrema que Platão atribui
às narrativas: capacidade de moldar, de plasmar almas. Não seria exatamente
isso que Sheherazade faz com o sultão? Ela plasmou, moldou sua alma,
"abrandando o seu espírito".
Jeanne Marie
Gaguebin, num artigo publicado no Folhetim (4), articula essa passagem de
Platão a um texto de Walter Benjanim, que se intitula, exatamente, "Narrar
e Curar" (5). Além da ligação entre a fala e o gesto, entre a voz e a mão
(a que retornarei mais adiante), o texto de Benjamin aponta, de uma maneira
extremamente pertinente, para a cura pela narração (não fosse
esse o seu título!) - que é, como todos sabemos, apanágio da psicanálise
("talking cure') e de certas técnicas de cura chamanísticas.
Pode-se considerar o
sultão doente, ferido na sua afetividade, na sua capacidade
amorosa, pela traição feminina; pois bem, nessas longas noites de história,
Sheherazade vai exercendo junto a ele um longo processo terapêutico, analítico,
pontuado, a cada manhã, pela interrupção com que ela o remetia
á vida real. Ao fim das 1001 noites, o sultão se declara
"curado", abandona o "sintoma" e se dá alta: "Vós pacificastes
minha cólera, e eu renuncio de bom grado e, vosso favor, à lei cruel que eu me
tinha imposto". E Sheherazade cessa suas narrativas.
Num processo
analítico, o paciente fala; ao analista, cabe a escuta. Ele também fala,
interpretando; mas o que funda a psicanálise é o discurso do analisando. Pois
bem, aqui se trata de um processo invertido: é a escuta que é transformadora, é
a escuta que cura o sultão.
Falei da psicanálise
e também aludi a certos processos de cura chamanistica, que, aliás, estabelecem
com a psicanálise mais de um vínculo. Lévi Strauss relata, na
"Antropologia Estrutural" (no capitulo "L'Efficacité
Symbolique") um procedimento dos índios Cuna do Panamá, por ocasião dos
partos difíceis: o chamã canta para a mulher grávida, diz palavras ao seu
ouvido, e assim o nascimento da criança é facilitado. Trata-se, como observa o
antropólogo, "de uma medicação puramente psicológica, uma vez que o chamã
não toca no corpo da paciente, nem lhe administra remédios; mas, ao mesmo
tempo, é colocado diretamente e explicitamente em causa o estado patológico e
seu centro: diríamos antes que o canto constitui uma manipulação psicológica do
órgão doente, e que é desta manipulação que a cura é esperada' (6). Manipulação
psicológica: metáfora expressiva para o processo psicanalítico. E também para
aquele processo em que as narrativas, como queria Platão, moldam as almas,
"com mais carinho do que por meio das mãos fazem com o corpo". Mas
voltemos a Lévi Sstrauss. Diz ele que o chamã fornece à sua doente uma 'linguagem:
"E é a passagem a esta expressão verbal (que permite, ao mesmo tempo,
viver sob uma forma ordenada e inteligível uma experiência atual, mas sem isso,
anárquica e inefável) que provoca o desbloqueio do processo fisiológico, isto
é, a reorganização, num sentido favorável, da seqüência da qual a doente sofre
o desenvolvimento" (pág. 218).
O sultão se encontra
crispado na sua ira de traído, bloqueado na sua capacidade de amar: Sheherazade
oferece a ele uma linguagem, na qual esse estado pode exprimir-se. Sheherazade
fala, e o sultão escuta. É como se a perturbação afetiva grave, de que fora
acometido, na sua ira de traído pelas mulheres, só fosse acessível à linguagem
simbólica da poesia e da literatura. E aqui a gente encontra a narrativa
restaurada no seu sentido pleno e primordial, de veículo de experiência humana.
Sheherazade oferece
ao sultão uma linguagem, um discurso simbólico que possa atingi-lo, por
inteiriçado e crispado que ele estivesse na sua incapacidade afetiva. Ela
oferece ao sultão o acesso ao mundo simbólico; oferta-lhe uma linguagem, como
queria Lévi-Strauss, "na qual podem exprimir-se estados não formulados e,
de outro modo, não formuláveis". "Não é portentoso que na noite 602,
o rei Xariar ouça da boca da rainha a sua própria história?", pergunta-se
Jorge Luís Borges (7) extasiado.
Sheherazade apresenta
a Xariar o nível mítico: apresenta-lhe à consciência conflitos que o
traumatizaram, bloqueando sua capacidade afetiva, de tal maneira que ele possa
lidar com eles. É por isso que ela não expurga de suas narrativas as histórias
de adultérios e traições femininas, não omite casos em que as mulheres enganam
a seus maridos; ela não faz ao rei uma narrativa "ad usum delphini";
é notável a ausência de censura moral nas suas histórias.
Trata-se aqui, como
na psicanálise, (e na cura chamanística), de propiciar uma transformação
interior, consistindo numa reorganização estrutural da personalidade: trata-se
de recuperar a capacidade amorosa do sultão. Pois bem, Sheherazade, como na
transferência, propicia ao sultão que reviva com ela uma experiência afetiva
continuada e para isso ela precisava de tempo (a saber: 1001 noites -o tempo de
uma terapia?) e assim resgata sua capacidade afetiva.
Falei em paralelo com
a psicanálise. Mas trata-se aqui de um paralelismo que, evidentemente, não
exclui as diferenças. Pois há em "As 1001 Noites", como aparece em
Platão, como sugere W. Benjamin, uma ligação entre a fala e o gesto, entre a
voz e a carícia. Não nos podemos esquecer de que as narrativas de Sheherazade
se seguiam às suas noites de amor com o sultão e são suas histórias
que lhe facultam a possibilidade de dormir próxima noite com ele. É a
narrativa que possibilita o encontro futuro. Já se disse que se Sheherazade
tivesse oferecido ao sultão só o seu corpo, ela teria sido executada, logo
após a primeira noite: foi o que, todas as suas antecessoras fizeram, e todas
pereceram. E Sheherazade salva não apenas a si própria e a todas as mulheres em
idade de casar do seu povo: ela salva também o sultão: ela o cura de sua ira
patológica e assassina, e possibilita a ele uma descendência. A persistir no
seu plano cruel e ginecida, o sultão se privaria para sempre de amar, e de
filhos. Sheherazade oferece a ele o tempo e, junto com as suas histórias, a
História; oferece a ele o tempo, e, junto com ele, as coisas todas que dele
precisam para se engendrarem: os filhos, a duração do afeto, a permanência de
vínculos, o longo processo (analítico) de uma cura. Sheherazade oferece ao
sultão um discurso vivo.
Sheherazade ou do
poder da palavra. A sultana era uma contadeira de histórias, não em primeira
linha uma escritora: ela as contava de viva voz. Aquelas 1001 noites eram
marcadas pela cálida proximidade da 'mulher, da mulher na sua inarrável
corporeidade. Não podemos esquecer da carga corporal que a palavra falada
carrega. Na narrativa oral, a Palavra é corpo: modulada pela voz humana, e
portanto carregada de marcas corporais; carregada de valor significante. Que é
a voz humana senão um sopro (pneuma: espírito...) que atravessa os labirintos
dos orgãos da fala, carregando as marcas cálidas de um corpo humano? A palavra
oral é isso: ligação de sema e soma, de signo e corpo. A palavra narrada guarda
uma inequívoca dimensão sensorial.
"No princípio
era a Ação", diz o Fausto de Goethe. Mas entre a Ação e a Palavra, em
"As 1001 Noites" a escolha está feita. "No princípio era o
Verbo", parecem dizer-nos elas, retomando o início do texto do mais
visionário dos Evangelistas. No entanto, esse texto não para aí: "...e o
Verbo se fez carne": restaura-se, assim, a dialética sema/soma, inscrita
no cerne da palavra a Palavra é também, inapelavelmente, corpo.
Notas
1. Utilizo aqui basicamente o texto de Antoine Galland (1717), em
edição Garnier , 1965, recorrendo também por vezes, ao texto de Mardrus (1899),
publicado por Robert/Laffont, Paris, 1985.
2. Cf. Gilbert Lescault -"Figurées, Défigurées (Petit Vocabulaire
de la Féminité Représentée)", Union Générale d'Editions, Paris, 1977, em
que, no vocábulo "Fileuses" são elencadas várias mulheres mitológicas
que lidam com o fio.
3. Freud: "A Feminilidade", Conferência 33 das "Novas
Conferências Introdutórias sobre Psicanálise", 1933, vol. 22 das
"Obras Completas", Imago, pág. 162. A referência a esse ensaio foi
sugerida pela leitura de Gilbert Lescault: "Figurées, Défigurées",
op. cit.
4. "Narrar e Curar", Folhetim, S. Paulo, 1 de setembro de
1985.
5. "Erzaehlung und Heilung", in
"Gesammelte Schriften", vol. 4, Suhrkamp Verlag, pág. 430.
6. Cf. capítulo "L'Efficacité
Symbolique", in "Anthropologie Structurale", Paris, Plon, 1958,
págs. 211 e seguintes.
7. Cf. J. L. Borges -"Los Traductores de las 1001 Noches", in
"Historia de la Eternidad", Emecé Editores, Buenos Aires, 1953.
Publicado no caderno Folhetim/Folha de São Paulo, em sexta-feira,
29 de janeiro de 1988
ADÉLIA BEZERRA DE MENEZES é professora de Teoria Literária na
Unicamp. autora de A Obra Crítica de Álvaro Lias e Sua Função Histórica"
(Vozes) e "Desenho Mágico: Poesia e Política em Chico Buarque"
(Hucitec)
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