"Que te devolvam a alma homem do nosso tempo. Pede isso a Deus ou às coisas que acreditas: à terra, às águas, à noite desmedida. Uiva se quiseres, ao teu próprio ventre se é ele quem comanda a tua vida, não importa... Pede à mulher, àquela que foi noiva, à que se fez amiga. Abre a tua boca, ulula, pede à chuva. Ruge como se tivesses no peito uma enorme ferida, escancara a tua boca, regouga: A ALMA. A ALMA DE VOLTA." (Hilda Hilst)



30/12/2009

Compota do prazer - prá 2010 nascer feliz!

(as imagens abaixo são detalhes de colagens feitas por mim... afinal, 2010 será um ano regido por Vênus, deusa da beleza, do prazer, do amor, da sensualidade, da arte!)


Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte,
Vem o fruto e vem a flor.
Eu sou a grande Mãe universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor
(Cora Coralina)











Dançam fadas alvas, cantam almas aladas, na taça ampla, na prata lavada, na jarra clara da manhã...
(Guimarães Rosa)





Deus nos dá pessoas e coisas, para aprendermos a alegria... Depois, retoma coisas e pessoas para ver se já somos capazes da alegria sozinhos... Essa... a alegria que ele quer (Guimarães Rosa)

Como não sou nada prendada na cozinha, e esse ano eu é que vou preparar a minha ceia (já que a arte da culinária também relaciona-se com Vênus...), vou arriscar uma receita (que vi no site do Gilson: http://www.gilsonchveidoen.com.br/) que, além de parecer viável mesmo para quem, como eu, não tem dotes culinários, tem um significado auspicioso... Então, se mais alguém quiser tentar essa mesma façanha, mãos à obra, prá 2010 nascer feliz!!!


(copiada do site do Gilson)

Esta receita da Compota do Prazer é muito antiga e, provavelmente, já é feita há mais de 6000 anos. Evidentemente, seus ingredientes foram adaptados a época em que vivemos de forma que a receita atual refletisse com bastante precisão os conteúdos de experiências que o seu saborear promove nas 9 Salas do Inconsciente Humano. Foram usados como referência relatos, a este respeito, descritos em pergaminhos muito antigos, descobertos no século XX por pesquisas arqueológicas realizadas no Oriente Médio.

Ingredientes:

300 gramas de ameixas pretas e sem caroço
100 gramas de maçã desidratada
100 gramas de pêra desidratada
100 gramas de passas brancas
100 gramas de cerejas ao marrasquino, inteiras com toda a calda
100 gramas de nozes picadas
100 gramas de castanhas do Pará picadas
100 gramas de amêndoas sem pele picadas
um pouquinho de canela em pau
um pouquinho de cravo
1 rodela de limão
1 cálice de vinho tinto

Modo de Fazer:


- Faça uma calda colocando numa panela 2 xícaras de chá de açúcar para caramelar, ou seja, cozinhando o açúcar até ele ficar da cor de um caramelo, e acrescente, então, 1 litro e meio de água fervendo.
- Misture bem o açúcar caramelado com a água fervendo e coloque primeiro a maçã e a pêra desidratadas.
- Depois que estiverem quase cozidas, coloque o restante dos ingredientes começando pela ameixa.
- No final coloque o vinho.
- Deixe a Compota apurar por mais ou menos 40 minutos.


Algumas Observações:

- Se você resolver aumentar a quantidade dos ingredientes aumente, também, proporcionalmente a quantidade de calda.
- Se depois da Compota ficar pronta você achar que ela ficou com pouca calda, faça em uma outra panela mais uma medida de calda e quando ela estiver bem dissolvida a acrescente a Compota já pronta.
- E assim estará pronta a sua Compota do Prazer, que posta na geladeira poderá durar de 1 a 2 meses.

29/12/2009

Sarau e lançamento dos meus livros em São Paulo - um dos momentos especiais vividos em 2009!!!

"A diferença entre construção e criação é que uma coisa construída só pode ser amada depois de pronta, ao passo que uma coisa criada é amada antes de existir."
(G.K.Chesterton)











Foi um imenso prazer receber em meu consultório (em meu "espaço sagrado") pessoas tão queridas e especiais, amigos e amigos de amigos, companheiros de trabalho, pacientes, alunos e ex-alunos, que compartilharam conosco os seus talentos, como o meu querido amigo e supervisor do Pós-doutoramento que fiz na FEUSP, Marcos Ferreira Santos (na foto à direita), que nos encantou com sua música e com suas sempre sábias e sensíveis palavras!
"Coração cresce de todo lado.
Coração vige feito riacho colominhando
por entre serras e varjas, matas e campinas.
Coração mistura amores. Tudo cabe."
(Guimarães Rosa)

"Que te devolvam a alma
Homem do nosso tempo.
Pede isso a Deus
Ou às coisas que acreditas
À terra, às águas, à noite
Desmedida,
Uiva se quiseres,
Ao teu próprio ventre
Se é ele quem comanda
A tua vida, não importa,
Pede à mulher
Àquela que foi noiva
À que se fez amiga,
Abre a tua boca, ulula
Pede à chuva
Ruge
Como se tivesses no peito
Uma enorme ferida
Escancara a tua boca
Regouga: A ALMA. A ALMA DE VOLTA."

(Hilda Hilst, in: Poemas aos Homens do Nosso Tempo)



"Que tudo que eu diga e tudo que eu pense
esteja em harmonia convosco,
Deus em mim, Deus além de mim,
construtor das árvores.
Em mim a verdade do salgueiro dos amantes
a doação do solo do amieiro
os frutos doces da amendoeira, a sabedoria do carvalho."
(trecho de uma prece de bênçãos dos índios da nação chinook)

28/12/2009

A descrição mais linda e sensível de um beijo que já li, por Julio Cortázar



"Toco a sua boca com um dedo, toco o contorno da sua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se, pela primeira vez, a sua boca entreabrisse, e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar.

Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que minha mão escolheu e desenha no seu rosto, uma boca eleita entre todas, com soberana liberdade, eleita por mim para desenhá-la com minha mão em seu rosto, e que, por um acaso, que não procuro compreender, coincide exatamente com a sua boca, que sorri debaixo daquela que minha mão desenha em você.

Você me olha, de perto me olha, cada vez mais de perto, e então brincamos de ciclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam uns dos outros, sobrepõe-se, e os ciclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem, com um perfume antigo e um grande silêncio.

Então as minhas mãos procuram afogar-se no seu cabelo, acariciar lentamente a profundidade do seu cabelo, enquanto nos beijamos como se estivéssemos com a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragrância obscura. E se nos mordemos, a dor é doce; e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu sinto você tremular contra mim, como uma lua na água."

(Julio Cortázar)

20/12/2009

Um Ano Dourado 2010

" Déjenme solo con el día, pido permiso para nacer"
(Pablo Neruda)







2010, ano regido por Vênus,
desponta do solo de nossas experiências anteriores numa sexta-feira, dia de Oxalá, como uma flor que a cada mês abrirá uma pétala nova e fresca, colocando-nos em contato com os nossos sonhos mais íntimos, que aos poucos vão cumprindo a sua destinação de co-criar a Vida, da qual somos espectadores e protagonistas ao mesmo tempo...
Entrar em sintonia com a envolvente melodia que prepara esse despertar nos conduz à busca de nossas contribuições para que esse seja um ano iluminado e abençoado, derramando sobre nós toda a preciosidade e grandeza que pudermos acolher em nosso Vaso Mágico e expandir através de todas as nossas relações...

"No amor, todas as coisas são renovadas. O prazer é o sorriso que o amor concede à mortalidade... A morte é uma ilusão. O mais próximo que ela chega da realidade é quando o amor está ausente." (D. Chopra)

Como uma

Janela Aberta Para A Felicidade 2010

entra em nossas vidas eclodindo das profundezas desse vasto mar que compõe o acervo de infinitas possibilidades guardadas no ventre do Criador, como Afrodite renascida da espuma uraniana, fecunda... expandindo amor, beleza, bom-humor, alegria, arte, prosperidade, abundância, haromonia...

"Vivo a minha vida em anéis crescentes, que se abrem sobre coisas. Talvez eu não complete o último, mas eu quero tentá-lo. Eu giro em torno de Deus, a mais antiga das torres. E giro por milênios. E ainda não sei: serei eu um falcão, um vendaval ou uma grande canção?" (Rilke)

Um grande abraço, com carinho e gratidão por estarmos em contato




15/12/2009

"Que canto há de cantar o indefinível? O toque sem tocar, o olhar sem ver..." (H. Hilst)

Se todas as tuas noites fossem minhas
Eu te daria, Dionísio, a cada dia
Uma pequena caixa de palavras
Coisa que me foi dada, sigilosa

E com a dádiva nas mãos tu poderias
Compor incendiado a tua canção
E fazer de mim mesma, melodia.

Se todos os teus dias fossem meus
Eu te daria, Dionísio, a cada noite
O meu tempo lunar, transfigurado e rubro
E agudo se faria o gozo teu.
(Hilda Hilst)

Um pouco mais de poesia para acender meu dia...

ROSTO COM DOIS PERFIS

Renuncio às palavras e às explicações
Ando pelos contornos,
Onde todos os significados são sutis, são mortais.

Não quero perder o momento belo.
Quero vivê-lo mais,
com a intensidade que exige a vida:
desgarramento e fulguração.

Então me corto ao meio e me solto de mim:
a que se prende e a que voa,
a que vive e a que se inventa.

Duplo coração:
a que contempla e a que nunca se entende,
a que viaja sem saber se chega
- mas não desiste jamais.
(Lya Luft)



"É preciso estar sempre embriagado. Com vinho, poesia ou virtude, a escolher." (Baudelaire)


Tem dias que só a poesia pode salvar-nos, na humana lida de cada dia, do tédio e do cansaço que acomete, de tempos em tempos, quem vê tantos horizontes e, mesmo assim, ou justamente por isso, se vê na premência de parir trilhas para que se faça visível alguma estrada... Trabalho quase sempre tão solitário, orquestrado por reverberações da alma, que de tanta vida investida nessa lida, silenciosamente implora por mãos que a toquem com sensibilidade e delicadeza, e por pares que ecoem músicas que a embalem...

Nesses dias, em que o sol se engendra no ventre da noite para fecundar seus sonhos, a poesia aquece e ilumina a promessa do que se anuncia...


"...empurre as mãos lentamente
através da pele do rio
até tocar o coração da beleza
(ruína do tempo impenetrável)

depois as retire lentamente
como se puxasse do infinito
a respiração
da criança nascendo"

(Afonso Henriques Neto)

13/12/2009

XXIII Moitará: Mitologia dos Orixás

"Em cada esquina de minha alma existe um altar para um deus diferente" (Fernando Pessoa)

"Sou um construtor de altares. Construo meus altares à beira de um abismo. Eu os construo com poesia e beleza. Os fogos que acendo sobre eles iluminam o meu rosto e aquecem o meu corpo. Mas o abismo continua escuro e silencioso..."(Rubem Alves)

O XXIII Moitará, promovido pela Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica, que aconteceu em Campos do Jordão em 27, 28 e 29 de novembro de 2009, reuniu pesquisadores de diversas áreas falando sobre a Mitologia dos Orxiás.

Foi um grande prazer participar desse Moitará, que versou justamente sobre o tema do meu novo livro, e que não por acaso é um tema que está atualmente em evidência, já que nos coloca em contato com a riqueza de símbolos presentes na constituição de nossa alma multicolorida... E como disse, com tanta propriedade e sabedoria que lhe são características, o meu querido amigo e supervisor do meu Pós-doutorado Marcos Ferreira Santos (FEUSP) em um de seus textos:

"...a herança ancestral é muito maior e mais durável (grande duração) do que a minha existência (pequena duração). Esta herança coletiva pertence ao grupo comunitário a que pertenço e me ultrapassa. Desta forma, temos com esta ancestralidade uma relação de endividamento na medida em que somos o futuro que este passado possuía e nos cabe atualizar as suas energias mobilizadoras e fundadoras. Num resumo: nossa dívida com a ancestralidade é sermos nós mesmos."


"...as vozes ancestrais sempre brotam de nossos porões, daquilo que trancafiamos sem nos darmos conta do que fazemos ao negligenciarmos a ancestralidade que vive através de nós mesmos. Daí a dificuldade em lidarmos com as questões concretas e pragmáticas da vida cotidiana. É preciso ouvir as vozes que ecoam. E elas sempre ecoam de dentro."
(Marcos Ferreira Santos)