"Que te devolvam a alma homem do nosso tempo. Pede isso a Deus ou às coisas que acreditas: à terra, às águas, à noite desmedida. Uiva se quiseres, ao teu próprio ventre se é ele quem comanda a tua vida, não importa... Pede à mulher, àquela que foi noiva, à que se fez amiga. Abre a tua boca, ulula, pede à chuva. Ruge como se tivesses no peito uma enorme ferida, escancara a tua boca, regouga: A ALMA. A ALMA DE VOLTA." (Hilda Hilst)



07/03/2011

8/3 - Dia da mulher... e nada mais feminino do que o mar, que concebeu Afrodite e a trouxe para nós! Odôiá Mamãe Iemanjá!

(Matisse, Femme endormie)
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IMITAÇÃO DAS ÁGUAS
(João Cabral de Melo Neto)
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De flanco sobre o lençol,
paisagem já tão marinha,
a uma onda deitada,
na praia, te parecias.
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Uma onda que parava
ou melhor: que se continha;
que contivesse um momento
seu rumor de folhas líquidas.
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Uma onda que parava
naquela hora precisa
em que a pálpebra da onda
cai sobre a própria pupila.
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Uma onda que parava
ao dobrar-se, interrompida,
que imóvel se interrompesse
no alto de sua crista

e se fizesse montanha
(por horizontal e fixa),
mas que ao se fazer montanha
continuasse água ainda.
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Uma onda que guardasse
na praia cama, finita,
a natureza sem fim
do mar de que participa,


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e em sua imobilidade,
que precária se adivinha,
o dom de se derramar
que as águas faz femininas
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mais o clima de águas fundas,
a intimidade sombria
e certo abraçar completo
que dos líquidos copias.
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Filha de Iemanjá, sereinha é!
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