"Que te devolvam a alma homem do nosso tempo. Pede isso a Deus ou às coisas que acreditas: à terra, às águas, à noite desmedida. Uiva se quiseres, ao teu próprio ventre se é ele quem comanda a tua vida, não importa... Pede à mulher, àquela que foi noiva, à que se fez amiga. Abre a tua boca, ulula, pede à chuva. Ruge como se tivesses no peito uma enorme ferida, escancara a tua boca, regouga: A ALMA. A ALMA DE VOLTA." (Hilda Hilst)



06/03/2011

Uma semana no paraíso (parte 1): a cura!

O último tema que abordei no semestre passado no curso que dei em meu consultório: Alquimia e Arteterapia foi sobre Merlin, Velho Sábio a quem se deve toda a história do Rei Artur, os cavaleiros da Távola Redonda e a busca do Graal. Ao dar essa aula, um fato nessa história me saltou aos olhos:
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“Merlin precisava de tempos em tempos recuperar-se do convívio com a ganância dos homens, na floresta, pois sentia-se enlouquecer, sendo sempre cuidado nesses momentos por sua irmã Ganiedda, que o acalmava com sua música” (nas palavras de Maria Zélia de Alvarenga em seu livro: O Graal)
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Por isso de tempos em tempos ele se recolhia na floresta, para não enlouquecer de vez... Merlin só se curou de sua loucura intermitente quando encontrou uma fonte mágica da qual bebeu...
Então me dei conta de que eu precisava, urgentemente, ir para algum paraíso, a fim de me recuperar da alucinante correria do ano, muito produtivo mas desgastante, pois foi o ano em que eu participei da diretoria da AATESP na organização do Congresso Brasileiro de Arteterapia, que foi na UNIP, além do lançamento dos meus livros vol 4 e vol 5 e da abertura da nova Pós em Arteterapia Aplicada na UNIP...
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Em seguida, no avião, voltando do Congresso Nordestino de Arteterapia, assisti a um vídeo sobre Fernando de Noronha, e logo percebi que lá estava o tipo de paraíso que eu precisava!!! A natureza preservada, respeitada, com um mar azul de tonalidades que eu nunca tinha visto... Quando cheguei em São Paulo, com febre por uma sinusite ocasionada pelo ar condicionado fortíssimo do ambiente do congresso, tive a certeza de que eu precisava mesmo de um paraíso não só para recuperar as minhas forças, mas para recuperar também a minha saúde, um local de cura para meu corpo cansado e de deleite para a minha alma, em que eu pudesse vivenciar um reencontro com a minha essência – pois eu sou mesmo um “bicho do mato”... e viver numa cidade como São Paulo só é possível para mim se eu puder ter momentos em que me recolha em meu santuário interior... Como diz Maria Zélia no mesmo livro:
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“Os cavaleiros de Arthur, através do Velho Sábio, compreendem que o campo
de ação do humano não são mais as guerras de conquistas, mas sim que a grande aventura é a busca da própria alma. A verdadeira tarefa dos cavaleiros é buscar-se a si mesmo.”
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Ao ir atrás de agências de viagem para viabilizar a minha viagem para Fernando de Noronha, todas me diziam que, a essa altura, eu não encontraria mais vagas (eu queria ir no início de janeiro).
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Comecei a procurar então por algum outro paraíso, e na aula seguinte do curso eu perguntei aos alunos se eles conheciam algum paraíso para onde eu pudesse ir em janeiro, a exemplo de Merlin, e uma das alunas me disse: “Eu estou indo para Fernando de Noronha semana que vem”. Então eu percebi que deveria insistir um pouco mais na procura por pacotes de viagem para lá, ela me disse que não era impossível ainda conseguir, e foi o que eu fiz: inisiti com a TAM viagens, que me dizia que não havia mais vagas, e consegui saber que poderia colocar o meu nome na fila de espera e em 48hs eu teria uma resposta, quem sabe alguém cancelaria a sua reserva e eu poderia ir! 48 hs depois, eu estava fechando o pacote, 7 dias no paraíso, na data que eu queria e poderia ir!!!
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E não me enganei: de queixo caído, diante da deslumbrante beleza de cada praia, dos diversos tons de azul do mar, da riqueza da fauna marinha, eu agradecia a Deus várias vezes ao dia por estar ali, por tanta beleza que encantava os meus olhos e extasiava a minha alma! Foram momentos de cura, mas a cura que me é característica: a cura pela “doce medicina”, pelo resgate da doçura e alegria de viver, pelo reencontro amoroso com a alma e através dela sentir-se conectado com a Fonte de onde jorra a Vida...
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Isso significou, entre outras coisas, que o meu corpo respondeu: a minha saúde geralmente é muito boa, graças a Deus, com exceção dessa sinusite crônica que eu tenho desde criança, que é o preço que eu pago por não morar no mato (rs), mas acontece que eu estava há 9 meses com um cisto na gengiva (que latejava como um furúnculo), que os médicos me diziam, ao examinar os exames, que era um cisto de retenção devido à sinusite, e que a solução seria operá-lo, e para essa operação eu teria que tomar anestesia geral!

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Como eu não tenho nenhum plano de saúde, pois optei por gastar o meu dinheiro com procedimentos que me ligavam com a saúde ao invés de gastá-lo já prevendo que um dia eu ficaria doente, eu tinha 2 opções: comprar essa viagem, que não é barata, e investir na minha saúde, ou me internar num hospital e gastar o triplo do que me custaria a viagem nessa cirurgia... Optei pela viagem, e pelos procedimentos não invasivos: fiz 2 sessões de acupuntura antes de ir para Fernando de Noronha, que era o que daria tempo de fazer antes da viagem que já estava marcada, para tratar da sinusite. A acupuntura já me fez sentir bem melhor, comecei a tomar uns florais do Joel Aleixo também, e assim que voltei da minha viagem, pasmem: o cisto que já estava há nove meses em minha gengiva fez uma ponta e drenou! Parece que era uma espécie de furúnculo: eu dizia isso aos médicos, pedia para eles fazerem um furo para drenar a região, mas eles me diziam que não deveria ser pus o que tinha ali, e que só a cirurgia mesmo era o indicado... Mas, pelo sim pelo não, eu fui sozinha para Fenando de Noronha, como uma “cavaleira” em busca do Graal...
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“Existe, então, um recipiente maravilhoso em quase todas as mitologias; ora ele proporciona juventude e vida, ora é curativo ou está imantado de inspiração e sabedoria. (...) Muitas vezes – sobretudo como caldeirão -, ele proporciona transformação e, com esta propriedade, tornou-se particularmente famoso como o vas Hermetis da alquimia.”
(Ema Jung e von Franz, em seu livro: A Lenda do Graal)
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Enfim, a partir dessa viagem, o que estava congestionado, descongestionou, o que não estava fluindo, começou a fluir... E eu voltei às aulas de flamenco, dança do ventre, Yoga...
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“Buscar o Cálice Sagrado é tarefa-destino de cada um. A deusa aguarda por todos, no fundo da floresta encantada. Entretanto, se desejarmos com toda pureza de intenções e nos empenharmos de coração aberto, poderemos alcançar, dentro de nós mesmos, o Templo Sagrado contenedor do Cálice da bem-Aventurança. No dia em que pudermos, como o “puro-tolo-ingênuo”, dizer ao outro que nos procura: “vá até onde fomos e saberás”, deixaremos de contar histórias para nos tornarmos a própria lenda. O Graal espera por todos nós!”
(Maria Zélia Alvarenga, no livro: O Graal)
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