(pintura de Holly Sierra) 
 
La vem o Ano Novo (Ruth Rocha) 
 
Foi no dia 31 de dezembro. Vocês sabem que o dia 31 de dezembro é o último dia do ano. 
Lá na Casa do Tempo, todos estavam se preparando pra começar o novo ano. 
O Ano Velho já estava muito cansado de tanto trabalhar. E o Ano Novo estava prontinho pra nascer. 
Todos os ajudantes do Tempo, os segundinhos, os minutos, as senhoritas horas, as senhoras semanas, os doutores meses, todos preparavam-se pra a passagem do ano. 
Cada grupinho discutia seus problemas. Os segundinhos estavam muito aborrecidos: 
- Ah, isso é uma injustiça. nós que somos os menores de todos é que temos que trabalhar mais! e os minutos, aqueles enjoados, vivem nos empurrando! "Anda depressa! Não pode atrasar! Deixa de moleza!" 
Os minutos também tinham seus problemas: 
- Esses segundos nos dão muito trabalho. temos que estar contando todo tempo e eles são tantos! Todos parecidos! Vivem loucos para entrar no escorregador do tempo. De vez em quando, um deles entra na fila antes da hora e sai cada confusão! 
O que vale é que lá na Terra ninguém percebe nada. 
A Meia Noite é que estava mais importante de todos. quando na Terra se fazem grandes festas pra comemorar o Ano Novo, Dona Meia noite estava toda vestida para a festa: de vestido comprido, plumas na cabeça. Parecia até uma estrela de cinema! E andava de um lado para o outro perguntando: 
- Estou bem? que tal meu vestido novo? Cuidado com minha cauda! Esses segundinhos são tão levados... 
E lá na Terra todos se preparavam também. Na casa da vovó Emília, havia uma grande festa. 
Enquanto as pessoas grandes faziam os doces e enfeitavam a casa, as crianças, todos os netinhos de Dona Emília, preparavam grandes listas de resoluções para o Ano novo: 
- Não vou mais comer escondido. 
- Nem eu. 
- Não vou mais faltar a aula pra jogar futebol. 
- Eu não vou mais amarrar latas no rabo do Epitácio. 
- Não vou mais puxar o rabo da gata Vitiver, coitadinha... 
- Não vou mais contar nenhuma mentira. 
Quando estava quase na hora, Dona Emília e Seu Tonico e todos os convidados vieram para a sala. E começaram a distribuir apitos, línguas de sogra, tudo que faz bastante barulho. 
Pedroca tinha trazido sua corneta: 
- Eu é que vou fazer mais barulho que todo mundo! 
Joãozinho já estava com alfinete na mão para estourar todas as bolas. 
Mas alguma coisa muito esquisita estava se passando. O relógio continuava andando normalmente, mas a meia noite não chegava nunca! 
Todos começaram a ficar espantados.  
Vovô Tonico tirou até seu grande relógio de bolso, que a vovó Emília chamava de Cebolão. 
Até o cuco veio dar uma espiadinha pra ver o que estava acontecendo. 
É que lá na Casa do Tempo havia um grande problema: quando chegou a hora de Dona Meia Noite passar para a Terra, ela resolveu fazer greve! 
- Não vou! Não vou e pronto! 
- Mas não vai por quê? - perguntou o Tempo -que é o chefão lá deles. 
- Não vou porque estou cansada de tanta fita. Olhe só lá na Terra! - e Dona Meia Noite continuou - Ah! Eu estou cansada de tanto fingimento. Todo ano é a mesma coisa! Prometem ficar bonzinhos, mas amanhã, estão todos fazendo as mesmíssimas coisas. 
Um segundinho passou reclamando: 
- Dona Meia Noite, passa logo! Eu não estou acostumado a trabalhar tanto! 
O Tempo já estava aflito: 
- Eu não posso parar, Dona Meia Noite! Anda logo! 
Dona Semana também tentou convencer a teimosa: 
- Se a Senhora não passar, não vai haver Ano Novo! Coitadinho dele...e o Ano Velho, coitado, vai ter que trabalhar o resto da vida! Ele qe já está tão velhinho... 
- Ah, não sei de nada! Desde que me entendo por gente é a mesma coisa. Já estou cansada! 
Nessa altura apareceu a mulher do Tempo, que é a Dona Temporada e que já estava ficando preocupada de ver tanta confusão: 
- Escute, Dona Meia Noite. É verdade que todos os anos as pessoas dizem qe vão melhorar e no fim não melhoram nada. Mas quem sabe, se este não vai ser realmente o Ano Novo? Não vai ser de verdade um Ano Bom? Olhe só para o Ano Novo, como é bonitinho, tão novinho, uma graça...Quem sabe, Dona Meia noite, hein? Quem sabe? 
Dona Meia Noite pegou o Ano Novo no colo. Ele sorriu. Ela também sorriu. 
Dona Temporada falou: 
- Quem sabe este aninho tão pequenino ainda não vai fazer um milage? O milagre de todos ficarem amigos e ninguém pensar em fazer mal aos outros. 
Todos aplaudiram. 
- É isso mesmo! 
- Coragem, Dona Meia Noite! 
- Vamos! 
Dona Meia Noite olhou para o Ano Novo que continuava sorrindo. 
- Sabe de uma coisa? Então, eu vou! Sai da frente pessoal, lá vou eu! 
E Dona Meia Noite, toda vestida de verde, que é a cor da esperança, escorregou pelo escorregador do tempo, dando adeus a todos: 
- Adeus, todo mundo! Feliz Ano Novo! 
E na Terra a alegria foi grande! Todos os relógios começaram a dar meia noite. 
Os foguetes estouravam no céu. 
Em todas as casas todos se abraçavam e pensavam: "Quem sabe? Quem sabe? Quem sabe?"  | 
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