
é lenta como a luz daquela estrela
é tão secreta uma mulher
que ao vê-la nua no quarto
pouco se sabe dela
a cor da pele, dos pêlos, o cabelo
o modo de pisar, algumas marcas
a curva arredondada de suas ancas
a parte onde a carne é mais branca
uma mulher é feita de mistérios
tudo se esconde:
os sonhos, as axilas,
a vagina
ela envelhece e esconde uma menina
que permanece onde ela está agora
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O homem que descobre uma mulher
será sempre o primeiro a ver a aurora.
(Bruna Lombardi)
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é tão secreta uma mulher
que ao vê-la nua no quarto
pouco se sabe dela
a cor da pele, dos pêlos, o cabelo
o modo de pisar, algumas marcas
a curva arredondada de suas ancas
a parte onde a carne é mais branca
uma mulher é feita de mistérios
tudo se esconde:
os sonhos, as axilas,
a vagina
ela envelhece e esconde uma menina
que permanece onde ela está agora
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O homem que descobre uma mulher
será sempre o primeiro a ver a aurora.
(Bruna Lombardi)
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celestial sublime
isso a torna perigosa
e você não pode nada contra o crime
dela ser uma mulher que goza
você pode persegui-la, ameaçá-la
tachá-la, matá-la se quiser
retalhar seu corpo, deixá-lo exposto
pra servir de exemplo.
É inútil. Ela agora pode resistir
ao mais feroz dos tempos à ira, ao pior julgamento
repara, ela renasce e brota
nova rosa
Atravessou a história
foi queimada viva, acusada
desceu ao fundo dos infernos
e já não teme nada
desceu ao fundo dos infernos
e já não teme nada
retorna inteira,
maior, mais larga
absolutamente poderosa.
(Bruna Lombardi)
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Nos rituais e nos cultos, a espera e a expectativa são idênticas ao ato de circundar e a circum-ambulação. (…). De maneira semelhante, nos mistérios primordiais da mulher, ou seja, no processo de ferver, cozer, fermentar, assar, o amadurecimento, “o ponto”, e a transformação estão sempre ligados com um período de espera. O ego da consciência matriarcal costuma permanecer quieto até que o tempo seja favorável, até que o processo esteja completo, até que o fruto da arvore lunar tenha amadurecimento e ficado como uma lua cheia, isto é, até que a compreensão tenha nascido do inconsciente. Porque a lua não é somente senhora do nascimento, mas também, enquanto arvore lunar e arvore da vida, um crescimento em si, “o fruto que gera a si mesmo”.(…)
Mas esse simbolismo feminino não para aqui, porque o que entrou tem que “vir a luz”. A frase “vir à luz” expressa maravilhosamente o duplo aspecto da consciência matriarcal, que experimenta a luz da consciência como a semente que brotou.
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O tempo qualitativo matriarcal é sempre uma ocorrência única e singular, como uma gravidez, em contraste com o tempo quantitativo da consciência patriarcal. Porque, para a consciência patriarcal de ego, todas as subdivisões do tempo são iguais; mas a consciência matriarcal aprendeu, a partir do ritmo do tempo lunar, a conhecer a individualidade do tempo cósmico, senão a do ego. A singularidade e a indestrutibilidade do tempo são consteladas aos olhos daqueles preparados para perceber o crescimento das coisas vivas, capazes de experimentar e de perceber a gravidez de um momento e a proximidade de um nascimento. (…).
Em conseqüência, a linguagem do simbolismo situaria, como regra, a consciência matriarcal não na cabeça mas no coração. Aqui, entendimento significa também um ato de sentimento inclusivo e freqüentemente esse ato – como, por exemplo no trabalho criativo – tem que ser acompanhado da mais intensa participação afetiva, se é algo que deve sobressair-se e lançar luz. (...)
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O tempo qualitativo matriarcal é sempre uma ocorrência única e singular, como uma gravidez, em contraste com o tempo quantitativo da consciência patriarcal. Porque, para a consciência patriarcal de ego, todas as subdivisões do tempo são iguais; mas a consciência matriarcal aprendeu, a partir do ritmo do tempo lunar, a conhecer a individualidade do tempo cósmico, senão a do ego. A singularidade e a indestrutibilidade do tempo são consteladas aos olhos daqueles preparados para perceber o crescimento das coisas vivas, capazes de experimentar e de perceber a gravidez de um momento e a proximidade de um nascimento. (…).
Em conseqüência, a linguagem do simbolismo situaria, como regra, a consciência matriarcal não na cabeça mas no coração. Aqui, entendimento significa também um ato de sentimento inclusivo e freqüentemente esse ato – como, por exemplo no trabalho criativo – tem que ser acompanhado da mais intensa participação afetiva, se é algo que deve sobressair-se e lançar luz. (...)
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“Não é sob os raios causticantes do sol mas na fria luz refletida da lua, quando a escuridão da inconsciência atinge sua plenitude, que o processo criativo se completa: a noite, e não o dia, é que é o momento da procriação. Esta requer escuridão e quietude, segredo, mudez e ocultamento. Em conseqüência, a lua é senhora da vida e do crescimento em oposição ao sol letal e devorador. O tempo úmido da noite é o tempo do sono, mas também da cura e de recuperação. (…). É o poder regenerador do inconsciente que na escuridão noturna sob a luz da lua executa seu trabalho, um mysterium dentro de um mysterium, trabalhando a partir de si mesmo e da natureza, sem qualquer ajuda do ego cerebral. É por isso que as pílulas e as ervas curativas são associadas à lua e seus segredos guardados por mulheres, ou melhor, pela natureza feminina, que está ligada à lua.

(...)
Tanto para o masculino como para o feminino, a totalidade só é atingível quando, numa união dos opostos, o dia e a noite, o mais alto e o mais baixo, as consciências patriarcal e matriarcal, chegam ao seu próprio modo de produtividade e mutuamente se complementam, fertilizando um ao outro.” (E. Neumann – “A Lua e a Consciência Matriarcal”) 

“Isto se ensina? Não. Se em-sina... Com o testemunho autêntico de nossa presença humana, ajudando o outro a colocar-se em sua própria sina, a cumprir a sua própria destinação...
Tem um conto africano que diz que foi uma aranha que trouxe o baú de hostórias do céu para a terra, compartilhando essas histórias com os homens... O nome dessa aranha (que no conto é do sexo masculino) é Anansi, que foi escolhido por Deus para receber esse baú depois de fazer o que Deus lhe ordenau, tarefas consideradas impossíveis de serem realizadas (como as 4 tarefas no conto Eros e Psiqué), mas que foram cumpridas com a ajuda da aranha esposa de Anansi, pois era ela - a sabedoria do Feminino - quem lhe inspirava sobre como deveria proceder para conseguir realizá-las (na versão do livro ao lado também são 4 tarefas). Em algumas versões, ele vivia como um humano antes de se transformar em aranha. As tarefas pedidas também variam nas várias versões. 
Na mitologia grega, temos as Moîras (tecelãs do destino), e Aracne, transformada em aranha por Atená ao desrespeitar os deuses em um de seus bordados numa competição que insistiu em ter com Atená: o seu bordado tinha uma técnica impecável, mas faltava-lhe a humildade, sem a qual nenhum conhecimento pode transfromar-se em sabedoria, faltava-lhe reconhecer que é o divino em nós que nos faz criar, e saber honrar isso (Jung dia que a criação é um grande mistério, e que os mistérios não se explicam), é através de nossa humilde (a palavra humildade vem de húmus, que é matéria orgânica depositada no solo) humanidade que podemos nos colocar a serviço dos deuses, trazendo um pouco mais de luz, assim, ao mundo através das nossas ações, das nossas criações... Aliás, foi Atená quem ensinou aos homens a arte de bordar.

Sendo assim, com tanta beleza contida no simbolismo da teia da aranha tecelã, em tantas esferas diferentes, como eu poderia deixar de me encantar e de me sentir grata ao Universo por um encontro tão especial, como esse encontro vivido com uma aranha que fez inusitadamente a sua teia em meu carro, durante a noite? A viúva do conto O Quadro de Pano também teceu todo o seu quadro à noite, à luz de uma tocha...
Ai de nós, mulheres Psiqué, à espera do arrebatamento de Eros para que ele, com suas flechas, abra brechas por onde o encanto e o deleite se derramem sobre nossa vida cotidiana, e a faça bela...